Independente da personalidade e idade do primeiro filho, todos sentem com certeza. Ser o filho único, centro das atenções e mimado por todos de fato é uma delícia. Então busquei ler um pouco sobre o assunto e conversar com algumas amigas terapeutas para me preparar para a chegada da Manu e saber como lidar com a Bruna.
Durante a gravidez eu sempre agi naturalmente, sem forçar nenhuma situação. Pois de nada adiantava falar para um bebê de 1 ano que tinha uma irmãzinha na minha barriga e que ela estava crescendo lá dentro.
Muito menos pedir para ela beijar a minha barriga ou falar o tempo todo nisso. Primeiro porque a Bruna ainda era muito pequena, e segundo porque causaria uma ansiedade desnecessária nela. E foi isso que todo mundo me indicou; não gere nenhum tipo de ansiedade na criança. Seja natural.
Com a evolução da gestação, a Bruna também evolui muito. De um bebê que não fazia nada, passou a falar e entender muita coisa.
Por volta dos 7 meses quando algumas coisas do quarto começaram a chegar , ela percebeu que algo acontecia. Comecei aos poucos a falar que aquele era o quarto da Manu, as coisinhas dela... sempre com naturalidade e sem questionar se ela ajudaria a cuidar, se iria brincar.... Pois isso geraria expectativa, e quando a Manu chegasse não iria brincar ou interagir com ela como ela estaria imaginando e seria apenas um bebê que dorme e chora.
Quando eu saí de casa para ir para a maternidade , a Bruna ainda dormia.
Nao tive coragem de entrar no quarto para dar um beijo , pois já estava super emotiva e ia desabar. Além do medo de algo acontecer comigo no parto , me sentia meio culpada, uma sensação esquisita, um medo de decepcioná-la, medo dos dias que viriam... e o principal; culpa de não ter curtido ela tanto quanto eu gostaria... de correr, rolar no chão, pular. Isso devido à minha limitação por causa do mal estar da gravidez e de dores horríveis nas costas . Eu via os dias passando, ela crescendo, evoluindo e eu sofrendo por não poder aproveita-la, e sempre dependendo de ajuda, seja de babá, do marido, da minha mãe... E eu simplesmente detesto depender.
No mesmo dia que a Manu nasceu, pedi para a minha mãe trazer a Bruna para visitá-la. Conforme dicas de amigas que já passaram por isso; compramos alguns presentinhos para dar quando ela entrasse no quarto falando que era da Manu para ela. Também achei melhor não estar amamentando ou com ela nos braços quando a Bruna chegasse pois seria um impacto muito grande. Então deixamos a Manu no bercinho e assim que a Bruna entrou , meu marido foi buscá-la na porta e primeiro a trouxe para mim, e depois apresentou a Manu.
A Bruna não demonstrou nenhuma reação, olhou e depois começou a ficar manhosa. Demos os presentes e então ela se distraiu um pouco. No segundo dia a Bruna pediu para subir na cama comigo, então pegamos a Manu, colocamos junto , e deixamos a Bruna fazer carinho, abraçar. E essa é a foto desse primeiro encontro onde eu quase infartei de emoção e medo dela esmagar a pequena!
O que o meu pediatra me orientou é; deixe a mais velha reagir como quiser, deixe abraçar, apertar, beijar, apenas fique de olho com situações que tenham risco, como ela atirar algum brinquedo, cair em cima, apertar a moleira...
Se a mãe agir com medo, proibir, vetar, já vai afastar a criança logo de cara. E não tem como evitar que pegue no bebê com a mão suja, beije no rosto, passe a mão na boca... Estou aprendendo a respirar fundo e levar numa boa. Penso sempre assim; todos sobrevivem no final, mesmo que para isso venham algumas gripes ou viroses. Dá sim para super proteger o primeiro, mas o segundo, o terceiro... impossível . Mesmo porque para protegê-lo, você terá que evitar o contato com o mais velho.
O mais difícil foram as 2 primeiras semanas em casa. Achei que eu não fosse aguentar. Além do cansaço e dificuldade dos primeiros dias com adaptação e amamentação ( sim, no segundo filho isso também acontece!), a Bruna resolver surtar.
De uma menina doce, ultra ativa e totalmente regrada, passou a ficar agressiva, chorava o dia todo, se jogava no chão, e não queria mais dormir depois do almoço. Se aproximar da Manu então, nem pensar. Isso estava me matando fisica e psicologicamente. Pois além do meu cansaço, estava sofrendo demais sabendo que a Bruna não estava bem, que precisava de mim, e eu não conseguia dar toda a atenção que ela merecia. Mais um sentimento de culpa.
Não dormir mais a tarde que atrapalhou tudo. Pois a Bruna sendo super ativa precisa desse descanso. E eu que trabalho, preciso desse tempo de silêncio em casa. Então no meio do dia ela ficava ainda pior, pois somado ao ciumes, ficava irritada de exaustão e não se rendia ao sono de modo algum.
Tentar fazer ela dormir era desesperador. Era só colocar no berço para ela berrar, chorar, gritar, e pedir "
Mamãe,por favor, não quero dormir". Tentei outras técnicas, coloquei na minha cama, contei histórias, levei na cama da minha mãe, e nada.
Depois de 2 semanas quem surtou foi eu. Comecei a chorar de cansaço, de desânimo e com medo de que a Bruna não voltasse mais à rotina dela. Pois eu não estava mais dando conta.
Então como sempre fiz, decidi deixá-la chorar no berço.
Sempre segui o Nana Nene com firmeza e por isso a Bruna é tão regrada e sempre dormiu sem acordar. Então lá fui eu tapar os ouvidos, pois coração de mãe não aguenta. Foram 2 dias chorando por alguns minutos que pareciam eternidade para mim.
No terceiro dia ela chorou um pouco, sentou no berço, pegou seu ursinho e capotou dormindo por quase 4 horas.
Depois dessa tarde bem dormida as coisas começaram a melhorar muito por aqui.
Ela voltou a sorrir, ficar bem disposta, brincar e parou de dar escândalos. O que algumas horas de sono não fazem com uma criança!
Ela não demonstra interesse pela irmã, mas também não se incomoda com ela. Eu sempre convido para ajudar a trocar fralda, dar banho... Convido uma vez, não forço, se ela quiser ela vem. Ela gosta e se sente importante ajudando quando tem vontade.
Por pouca vezes pediu para pegar a Manu no colo, e aí quando pede fica amassando , beijando, é super carinhosa. Outras vezes quando vê no meu colo quer bater, chora, faz escândalo.... São reações contraditórias, mas tudo dentro do esperado. O importante é não se render a esses dramas por pena, se não viramos refém disso.
Já passaram 50 dias do nascimento da Manu, e posso dizer que estou bem feliz com a minha rotina apesar da exaustão extrema. O pouco tempo que tenho livre , pois continuo trabalhando com design e com o blog que me demandam muito tempo, tento brincar com a Bruna e paparicá-la ao máximo. Elogio sempre, abraço, beijo, faço ela sorrir... e a Manu como não sente ainda, fica onde der; no carrinho, no berço, na cadeirinha. E acabo ficando com ela mais para amentar e depois que a Bruna dorme. Mas é um anjinho, não chora por nada, fica quietinha, o que ajudou muito a não irritar a Bruna , que as vezes nem lembra que a Manu esta em casa.
Essa semana tive uma alegria imensa, e uma sensação que nunca havia sentido antes; a de poder brincar com a Bruna de verdade. Depois de 9 meses de uma gravidez onde eu não tinha disposição e ainda limitada com as costas somado a um pós parto muito dificil e com algumas complicações, fomos em uma festinha e fui no pula pula, na piscina de bolinhas com ela, rolamos no chão...enfim, me senti livre e brincando de verdade. Parecia o início de uma nova relação. A felicidade dela falando: Mamãe está brincando comigo valeu todos esses meses. Ela não queria sair da piscina de bolinhas, só para ficar ao meu lado.
Acho que a foto demonstra toda essa alegria:
Ainda essa semana, fomos juntas ao Shopping, sem babá, sem marido, sem avó. Pela primeira vez depois que engravidei da Manu, não precisei de ninguém para me ajudar. Tomamos sorvete, passeamos, compramos um vestido para o aniversário dela. Foi simplesmente delicioso.
Ainda tenho muita limitação de tempo livre e de dor nas costas, não consigo fazer tudo que eu gostaria, tanto é que pós piscina de bolinhas, não levantava da cama no dia seguinte de dor no pescoço. Mas hoje posso tomar remédios, fazer ultrasom, é um pouco mais fácil que na gravidez.
E assim tem sido os meus dias. Estou realizada com minhas duas filhas e a cada dia melhorando a sensação de culpa com a Bruna. Não foi fácil esse começo com as duas. Mas como tudo na vida que é novidade, exige adaptação e principalmente, paciência.
Logo a Bruna vai perceber a importância de ter um irmão, logo poderão brincar juntas e criarão uma amizade e um laço para a vida toda.
A sabedoria das mães está em conseguir administrar toda essa mistura de sentimentos sem se culpar , sabendo que tudo que proporcionamos aos nossos filhos , com certeza é o melhor que podemos dar e com o maior amor do mundo.!!! A maioria das famílias hoje tem 2 filhos, e estão todos aí ,sem traumas e gratos por terem um irmão.
Por isso para as mães grávidas do segundo filho e que tanto me perguntaram sobre esse tema, não sofram antes da hora, não se culpem tanto, pois muitas vezes acaba sendo até mais fácil do que nós imaginamos. Tudo se ajeita no final.
E o que eu posso falar é que a emoção e o amor que sentimos realmente só multiplica e nos completa ainda mais.
É bom demais !
E nesse exato momento, estou em casa, esperando a fisioterapeuta chegar, para tentar melhorar a dor nas minhas costas, fruto das brincadeiras com a Bruna !